Estava aqui me perguntando porque eu sinto essa necessidade tão grande de sempre ter razão. Sabe aquela sensação de vitória que vem quando a gente disse a última frase e encerrou a discussão? Sim, o ego inflado: aquele sentimento de falsa alegria, que não dura mais do que alguns segundos e depois te larga pra lidar sozinho com as consequências de suas palavras duras. É sobre isso que quero falar hoje, sobre como minha busca por ter razão muitas vezes me fez sentir solitária.
Não sei se acontece com todo mundo, mas desde muito cedo desenvolvi o hábito de discutir com as pessoas tentando convencê-las de que eu estava certa, sobre qualquer coisa... é óbvio que nem sempre tinha êxito nesse convencimento, mas como nunca desistia, mesmo assim a palavra final quase sempre ficava comigo.
Levou tempo até eu perceber que, às vezes, uma pessoa não se cala em uma conversa porque concordou com você. Às vezes ela faz isso simplesmente porque se cansou de brigar ou do seu jeito arrogante, às vezes porque se magoou com suas palavras duras e simplesmente desistiu de tentar conversar.
Eu, do alto da minha prepotência, acreditava que a outra pessoa calava porque não tinha argumentos! Afiliava-me somente a pessoas com pensamento semelhante ao meu, e hostilizava aquelas com escolhas diferentes das minhas! Talvez possamos nos justificar dizendo que isso é natural. Mesmo assim, em algum momento eu passei a não me sentir à vontade com essa atitude, e perceber isso como reflexo das minhas limitações, que me faziam julgar-me superior a quem quer que ousasse divergir de minhas posições.
Nesse processo de tomada de consciência, passei pelo clima bélico das últimas eleições nacionais, que vejo se repetindo na politização da atual crise de saúde provocada pela pandemia. Em alguns momentos, lá em 2018, fiquei tão envolvida apontando o ódio e a intolerância das pessoas, que nem me dava conta do quanto eu própria estava fazendo o mesmo: criticando e ofendendo qualquer um que pensasse diferente de mim, inclusive pessoas especiais!
A frase "às vezes estar em paz, é melhor do que estar certo" (Claudio Frencis) sempre me soou meio comodista. Afinal, aprendemos que é preciso lutar, brigar, convencer, militar... Hoje, penso que o que posso realmente fazer é trabalhar no meu próprio processo de despertar, e isso já é suficientemente trabalhoso e, principalmente, doloroso. Não é fácil admitirmos que estamos sendo cruéis, grosseiros e desrespeitosos com os outros, sobretudo quando fazemos isso enquanto acusamos outros de terem este comportamento.
Mas se durante meu processo de despertar eu não admitisse a mim mesma que precisava melhorar como ser humano, como poderia exigir isso de alguém? Aliás, quem somos nós para determinarmos que alguém está errado e precisa mudar?
Sendo assim, decidi buscar SER aquilo que eu desejo VER! Comecei uma luta diária (e que luta!) para buscar me colocar no lugar do outro e entender que as minhas convicções foram formadas a partir das minhas vivências, e que todo mundo enfrenta uma guerra pessoal, com suas próprias dificuldades. Comecei a tentar me tornar uma pessoa mais gentil, tratar a todos como eu gostaria de ser tratada, principalmente as pessoas com quem eu não concordo (ô tarefa difícil). Afinal é muito fácil sermos gentis com nossos semelhantes, não há grandeza nenhuma nisso!
Chamar de "fada sensata" quem repetia meu modo de pensar e de "imbecis" quem expunha outra opinião era justamente o que me tornava tão parecida com aqueles a quem eu criticava com tanta facilidade, enquanto eu me sentia totalmente à vontade em ser hostil. Não se tratava de simplesmente me calar, mas de parar de me julgar superior!
Aprendi a necessidade de, antes de falar, exercitar o amor e a paz! Afinal, é muito mais fácil falar da boca pra fora, especialmente em tempos de polarizações, quando há uma sensação de que tudo está errado, que OS OUTROS precisam mudar...
Nestes momentos, precisamos voltar a olhar para dentro, para onde realmente podemos atuar. O caminho é parar de acusar, julgar, comparar e odiar! O desafio é assumirmos nossa autorresponsabilidade e atuar de maneira consciente sobre NOSSAS decisões e NOSSAS ações.
De minha parte? Entendi que pra Eliane arrogante deixar de existir, eu preciso exercitar o diálogo. E dialogar é como uma avenida de mão dupla em que é preciso dizer, mas é fundamental ESCUTAR! E quando digo escutar, não estou dizendo preparar a próxima fala, aguardando o silêncio alheio (o que eu ainda tenho que me esforçar muuuuito pra não fazer). Escutar significa estar aberto para o que o outro tem a dizer com respeito, humildade e o acolhimento, necessários para uma conversa adulta e madura. Fácil né? #sqn
Escutar envolve muito mais do que ouvir uma mensagem, a escuta ativa pressupõe disponibilidade, interesse pela pessoa e pela comunicação, compreensão da mensagem, espírito crítico e alguma prudência na interpretação. (Rego, 2007)
Eu, até bem recentemente, quando conversava apenas ficava pensando no contra-argumento a ser usado com meu interlocutor, ao invés de concentrar a atenção no que estava sendo dito, percebendo a mensagem que ele queria me passar.
Todos querem ter razão, isto é fato. Por isso, muitas vezes eu acabava num monólogo, ignorando a mensagem que o outro tentava me passar, às vezes até sendo grosseira e antipática. Ainda faço isso, com frequência, inclusive (e como é difícil admitir). Mas desde que tomei consciência dessa minha falha, tenho exercitado a melhora, que já consigo notar, embora ainda longe do ideal.
E o mais legal nessa mudança, não só de atitude, mas de sentimentos, é que fui justamente eu quem mais ganhei! Ganhei porque ao ouvir mais, comecei a aprender mais. Constatei que ninguém está totalmente certo ou totalmente errado, pois se você ouvir de verdade, com atenção, consegue perceber coerência nos argumentos do outro, ainda que você prefira se posicionar de outra forma. E o mais importante: quando me demonstrei interessada em ouvir, passei a ser ouvida também por essas pessoas, e elas passaram a me oferecer um pouquinho mais de credibilidade, embora continuassem discordando de mim em vários aspectos. O respeito se instalou e passei a não me sentir solitária e desgastada como ficava quando exercitava minha arrogância com todo mundo!
Em todo esse processo, percebi que ter razão não é tão importante, ao menos não mais do que saber ouvir o outro. E isso não significa concordar ou se submeter (embora eventualmente isso possa acontecer, por que não?!?!), significa apenas que não estamos julgando nossos argumentos acima dos de outra pessoa. Com este exercício diário, comecei a descobrir como parar de sacrificar a minha paz para alimentar o meu ego, e desse modo fui me tornando um pouquinho mais leve e feliz a cada dia! Sigo no processo...
Sejam luz queridas, um beijo!
Que ótimo artigo. Sigo como você, nessa mesma luta para baixar e ego e aumentar a paz. Beijos e parabéns pelo Blog ;)
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