20 março 2022

Não me chame de guerreira!

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A inspiração deste texto me veio no último dia 8 de março, dia das mulheres. Permiti que as tarefas diárias e outras prioridades me atropelassem e ele acabou não saindo. Mas hoje aquele mesmo sentimento invadiu com força meu coração e não pude resistir a umas das minhas melhores terapias: escrever!


Eu quero te contar sobre como é ter vários projetos de vida e se cobrar por não levá-los adiante. Sobre a culpa que me invade por minha "indisciplina" e o peso que isso acaba me trazendo.


Eu desejo muita coisa. Acompanhar de perto a vida dos meus filhos, ser uma profissional respeitada em meu meio, fazer meu canal no YouTube crescer, vender cursos na internet, aprender mais sobre investimentos, cozinhar bem, manter a casa sempre limpinha e cheirosa, dar mais atenção às minhas amizades, ao meu casamento...


Também queria poder tocar novos projetos que brotam em minha cabeça a todo momento, e não ter medo de fracassar ao iniciar algo novo. Não ter preguiça todos os dias de fazer atividade física. Queria não ter vontade de chorar ao me sentir culpada por não dar conta de tudo isso!


Também queria não me sentir um fracasso cada vez que não sei o que fazer. Queria ter tempo pra fazer tudo o que gostaria. Tomar aquele café, aquela cachaça, me alimentar melhor, pregar os quadros na parede, molhar as plantas que estão morrendo, pregar aquele botão que já perdi, lembrar daquele insight ótimo que tive há dois dias e não anotei. 


Queria salvar o mundo, ou pelo menos a mim mesma. Queria que o tempo desse uma trégua, que o dia tivesse 30 horas para que – quem sabe – eu conseguisse apaziguar a máquina produtiva que roda incessante aqui dentro, e de quebra sobrasse tempo pra dormir oito horas por noite. Um pouquinho de certeza. Queria as palavras certas, essas que nunca encontro, nunca estão lá, nem aqui, que o choro ajudasse e o cinza jamais aparecesse novamente.


Eu pensei em tudo isso durante a semana da mulher, ao ler incontáveis textos sobre a capacidade feminina de organização, cuidado e superação. Um modelo de feminilidade que reitera que para ser feliz uma mulher precisa ser bonita, desejável,  duplamente competente, magra, vaidosa, jovem. Forte, mas sem ameaçar a masculinidade hegemônica. Sexy sem ser vulgar. Mãe dedicada e abnegada. Inteligente, culta, engraçada, carinhosa. Bem sucedida.


E quem é que cuida dessa mulher exausta? Cansada de tentar se encaixar num padrão irreal e castrador? O discurso do sucesso, do pertencimento e da aceitação rouba nossa potência. Precisamos aprender a fracassar. Eu também preciso.


Devemos abandonar a síndrome de mulher maravilha. Qual o problema de não dar conta de tanta coisa? E se não tem nenhum, porque aqui dentro do meu coração isso incomoda tanto?


Cada vez mais tenho visto posts de mulheres expondo o quanto sofrem por tentar se adequar. O sofrimento de não ser digna de amor, de não ter o corpo certo, de não conseguir existir nesse mundo em que só há um jeito de ser mulher. E nunca é o nosso. Precisamos parar de naturalizar o sobretrabalho, a superação como um atributo feminino. Precisamos, com urgência, criar outros jeitos de ser mulher. E aprender a viver com eles. E aceitá-los.


Decidi expor esse texto porque algumas pessoas me admiram como se eu tivesse algum tipo de habilidade extraordinária de dar conta das coisas. Não, não tenho. Na maioria dos dias mal consigo levantar da cama de manhã. Todo mundo tem suas batalhas internas.


A gente precisa reprogramar essa ideia de que "não fazer nada útil" é fracassar. Eu preciso! Precisamos nos cobrar menos para sermos mais felizes. Abandonar expectativas e ideais inatingíveis sobre o que é ser uma boa mãe, uma mulher bem-sucedida, uma profissional realizada. Livrar-nos dessa cobrança é o caminho para uma vida mais leve e feliz.


Preciso aprender a receber ajuda, aprender a pedir ajuda. Eu agradeço a todos os amigos que estão sempre por perto, que me aceitam como sou (e eu sei que não sou fácil!). Agradeço a essas pessoas maravilhosas que me obrigam a aceitar ajuda mesmo quando eu não quero.


É queridos, eu não sou guerreira... E acredito que nenhuma mulher deveria ser! 

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